Foto de Alvaro Garcia, Jornal "El Pais"

Waltraud Meier como Isolde no Scala de Milão/2007

Querida Waltraud,
Estou realmente contente de ter encontrado este seu pequeno "portrait" no canal de televisão ARTE à respeito da produção de "Tristan und Isolde" no Scala de Milão em 2007.


A sua sensibilidade e devoção com as obras wagnerianas é realmente algo emocionante, e que podemos sentir na sua voz, na sua presença de palco, na sua emoção, na sua "vivência" do personagem! Infelizmente eu não estava presente pessoalmente em Milão, mas em outras oportunidades que pude compartilhar de um momento em uma mesmo ambiente com você, não posso negar que tive a alma tocada!

Compartilho com todos o link para o video no canal Arte.

Cliquem aqui! (ou sobre a imagem acima)

Meus sinceros agradecimentos ao canal ARTE.

Sieglinde/Sigmund x Brünhilde/Siegfried

“O que esta no alto é como o que esta embaixo e o que esta embaixo é como o que esta no alto, para assim realizar o milagre da Unidade”.
Esta é a fórmula tradicional do método de analogia, da Tábua de Esmeralda de Hérmes Trimegisto aplicada em relação ao espaço (no alto e embaixo).
Aplicando a fórmula em relação ao tempo (passado e futuro) podemos dizer “Aquilo que foi é como aquilo que será e aquilo que será é como aquilo que foi.”
Assim como o crepúsculo dos deuses já estava previsto no Ouro do Reno.
Partindo desse ponto, proponho uma relação entre 4 personagens-chave para toda a trama de “Der Ring des Nibelungen”:
Sieglinde/Siegmund e Brünhilde/Siegfried.

Mais do que uma relação de espelhamentos, temos nos personagens o ponto central de onde nossa peça encontra manifestação na relação tempo e espaço. Conforme indica a figura abaixo:
Para facilitar a compreensão podemos utilizar a grande cruz da Astrologia com os eixos Capricórnio/Câncer e Áries/Libra, onde teremos os personagens da seguinte maneira:
Partindo da relação “tempo”, temos os 2 irmãos, que são gêmeos, separados na infância, onde Siegmund conquistando experiências, lutando para ser um ser livre na busca pela Verdade, ao lado de “Wolf”, quando desarmado e inofensivo chega ao lar de Sieglinde, mas claro, ainda não consciente.
Este arquétipo do passado (“Siegmund”) precisa manifestar-se no presente (“Sieglinde”) assim como a manifestação embaixo (“Brünhilde”) só ocorre como objeto do protótipo que vem do alto (Siegfried), ou seja, Siegmund precisa de Sieglinde e Brünhilde precisará de Siegfried.
Porém a relação “tempo” precisa da relação “espaço” para manifestar-se, e simultâneamente teremos Brünhilde agindo pelos mesmos princípios de Siegmund (por mais que ela siga as ordens de Wotan, o compromisso de Brünhilde é, antes de tudo, com a Verdade).
Siegmund e Sieglinde são irmãos enquanto alma gêmeas, seres que provém dos mesmos progenitores, mesma “fonte”, compartilham os mesmos princípios e ideais, onde porém esse anseio pela verdade está preso à estrutura do tempo, horizontal (analogia com o signo de gêmeos) e por receberem toda a proteção de Wotan, o Deus dos tratados e acordos, o Deus incapaz de criar um ser livre, apenas servirão como fonte para, em uma estrutura vertical (analogia com o signo de Sagitário), criarem um ser que possa ser mais livre do que o próprio Deus Wotan, livre das convenções, onde podemos aqui até relacionar Wotan e sua estrutura “Walhalla” com os dogmas da igreja, que ofuscam a verdadeira espiritualidade.
É Sieglinde que nomeará Siegmund (onde o nome é fruto do amor que ela tem por ele) , assim como é Brünhilde que nomeará Siegfried.
Brünhilde será, como um gesto de auto sacrifício, “aprisionada” pelo próprio Wotan simplesmente para que Siegfried possa vir à luz. E será Siegfried, somente ele, que depois irá libertá-la para tornar-se o grande herói, o grande “cordeiro” que será sacrificado para que um novo mundo seja possível.
(Este tema foi proposto através do link “sugestões de novos temas” no blog versão francesa por “kundry 06”)

KUNDRY : vilã ou heroína?


Uma das coisas que mais me atraem em um personagem é a força de caráter que ele porta.

Dos nossos heróis wagnerianos sem dúvida que todos portam uma força incrível, mas alguns não são necessariamente heróis, porém conquistam essa força e tornam-se heróis.

Brünhilde, por exemplo, é naturalmente uma heroína, mas penso no caso em Kundry, que é justamente aquela que vai testar o herói, mas que é também o espelho fundamental para Parsifal, sem a qual ele não salvaria Montsalvat.

Kundry... misteriosa, sem origem conhecida, com olhos que tudo vêem e ouvidos que tudo ouvem, que acompanha os cavaleiros seja na salvação ou na perdição. Ela que atravessa continentes, planos, dimensões; destinada a errar pelo mundo, portando em si o conhecimento, é a serpente, a mulher enquanto “Eva”, enquanto princípio.

Kundry que serve à dois senhores: ao Graal quando dispertada por Gurnemaz, à Magia (negra) quando dispertada por Klingsor. É a mulher selvagem, a mulher sedutora, a mulher servidora. É ela que dominada pelos seus desejos inferiores, de natureza sensual, que incita os cavaleiros a perderem o domínio de sua energia criadora, é ela, e somente ela que pode indicar os caminhos à Parsifal, que é inocente até conhecer Kundry, quando ela proporciona à Parsifal à possibilidade de, através do conhecimento, transformar essa inocência infantil que só é inocente pois não conhece, em uma pureza que aprende a renunciar.

Parsifal precisa inclusive da maldição de Kundry, que diz que ela encontrará todos os caminhos, salvo aquele que ele busca, pois é só errando pelo mundo que ele conquista as experiências do mundo, de utilisar a lança, o poder espiritual, para curar, nunca para ferir, e depois de servir pelo mundo finalmente conquistar o mérito de tornar-se rei do castelo de Montsalvat e curar a humanidade, curar Amfortas, o homen caído.

De Herodias, a mulher que pediu a cabeça de João Batista em uma bandeja, à Maria Madalena, a mulher que Jesus Cristo expulsou 7 demônios, que lava os pés de Jesus e O vê após à Ressureição, Kundry é um universo de possibilidades.

É a grande figura wagneriana, criada pelo próprio Richard Wagner, pois não temos referências mitológicas exatas à respeito de Kundry da forma que encontramos na Kundry de Wagner.

Um estudo de misticismo designa como método de disciplina espiritual, o que chamamos de 3 votos: Voto da Pobreza, da Obediência e da Castidade. Esses 3 votos são em sua essência, lembranças do “Paraíso”, onde chamamos de Obediência quando o homen era unido à Deus, onde ele possuia tudo na medida que necessitava (sem apegos), que chamamos de Pobreza, e onde sua companheira era por sua vez sua esposa, sua amiga, sua mãe e sua irmã, que chamamos de Castidade. Pois a comunhão total entre o espírito e o corpo implica na integralidade absoluta do ser espiritual, anímico e corporal, no amor puro e casto, pois ai ama-se da totalidade do ser. Amar é sentir algo como plenamente real, despertando –se para a realidade de nós mesmos,que nos levará para a realidade do outro, do próximo, da humanidade.

Kundry, que desperta Parsifal para a realidade de si-mesmo no momento que ela o nomeia, vai passar por “mãe”, como que guia (amiga) para que ele descubra suas origens, até passar-se por esposa, amante revelando à ele mais do que as dores do mundo, as dores de amfortas, mas sim o Amor e as dores da Paixão, quando não conseguimos vivenciar esse amor puro e casto, até mostrar seu destino maduro para Parsifal implorando uma redenção, e deixando claro para Parsifal que ele só aliviará essa dor da Paixão indo ao encontro do amor pela humanidade.

Kundry, condenada à errar por vidas e mais vidas, precisa encontrar aquele que à rejeita, aquele que acessa o conhecimento (“KUNDe”que significa conhecimento em alemão, com o mesmo radical que KUNDry. No segundo ato Kundry diz à Parsifal: “Was zog dich hier, wenn nicht de Kunde Wunsch?” O que te atraíu até aqui senão o desejo do conhecimento?) do mundo, horizontal, que Kundry proporciona e que será a base para a conquista do conhecimento vertical, a sabedoria espiritual.

E Kundry após servir como caminho para o processo de Iniciação de Parsifal, finalmente acessa ao Graal, participa da cerimônia iniciática e pode, mais do que morrer, libertar-se da roda do destino, dos ciclos incarnatórios, conquistando a esperada redenção.

E claro, dedico esse texto à querida Waltraud Meier, que muito contribui nas inspirações à respeito de Kundry, que porta em si a sintese das possiveis incarnações da personagem (Herodias, Maria Madalena, Gundriggia, etc) e que é (na minha opinião) A melhor Kundry de todos os tempos!


Para aqueles que se interessarem sobre os métodos de disciplina espiritual, segue indicação da fonte: "Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarot", autor anônimo.